eu mesma

(este texto pode conter gatilhos)

parte I

após 45 minutos ao telefone com uma pessoa muito querida e alguns tweets inspirados, talvez eu tenha conteúdo para o primeiro capítulo do meu livro. e ele se chamará "eu mesma".

sempre me perguntei sobre o que escreveria em um livro, não fazia muito sentido na minha cabeça lançar os escritos das minhas dores (esses que costumo subir aqui no blog) - mesmo que dor seja algo que venda no mundo em que vivemos. 

mas não é essa perspectiva que eu gostaria de ter no meu livro, não no primeiro. embora eu comece a tecer muito sobre mim a partir daqui, saiba que esse texto não é sobre mim, apenas. ele é sobre e para você. acredite, ele pode ser para você. 


para as coisas que não lembro, utilizo as memórias da minha mãe. segundo ela, já nasci olhando tudo ao meu redor - ouvindo isso eu só lembro daquele meme: "que diabos eu reencarnei de novo".  

ela também se anima em falar que eu sempre fui muito inteligente e que comi biscoito com minha própria mão aos quatro meses (alô anos 90). ela gosta de contar sobre como eu já dava bronca nas pessoas sem ao menos saber falar e como morria de medo de médico. 

sempre achei que minha visão de mundo não se encaixava muito bem com a das pessoas que me rodeavam. eu sentia, via e ouvia coisas - mas, mais do que isso eu sempre fui MUITO atravessada pelos acontecimentos ao meu redor. a vida das pessoas e a forma como elas vivem sempre foi algo que eu não soube lidar muito bem - não soube lidar com o casamento e divórcio dos meus pais, por exemplo. também não reagi bem quando a minha única irmã se mudou para outro país. ou quando fui vítima de racismo naquela lanchonete vegana na asa norte. enfim, eu vou me adaptando e navegando fundo nas águas da psicanálise para ver se pelo menos isso tudo é amenizado.

minha cor preferida é azul, eu escrevo desde criança e nunca andei de avião. eu costumo colocar os interesses alheios à frente dos meus e, quando me fodo, choro. choro muito. mas em seguida, lá estou eu cuidando do outro de novo. eu gosto de dançar, gosto de usar roupas que combinam e fazem sentido na minha cabeça, eu amo meu cabelo raspado e minhas unhas coloridas. meus acessórios são em prata, amo tênis e tenho uma compulsão em comprar livros (mesmo não lendo-os). eu amo meus gatos e eles se tornaram meus grandes companheiros nos dias bons e ruins. 

eu mesma nunca achei que teria alguma coisa diferente para oferecer ao mundo. mas hoje reconheço que a maior dádiva que posso entregar, é minha existência e humanidade. é exatamente por ter vindo e reencarnado, que tenho algo para oferecer. normalmente, através de palavras de afirmação e presentes. mas também sou excelente em atos de serviço. mas muuuuito além disso, eu posso oferecer a incrível e magnífica dádiva de ser EU MESMA.

há 10 anos, tudo mudou drasticamente. a parte de não saber lidar com a vida alheia me atravessou e transpassou, retornou e atravessou novamente. me vi perdida e fui apresentada à depressão. doença cruel e voraz, sem cura, que me acompanha desde então. mas não sou acompanhada apenas por ela, tenho uma rede de apoio que segura essa barra que é ser Bárbara por diversas vezes. há quem não entenda, ninguém precisa entender. há quem desiste, ninguém precisa resistir. e há quem está aqui desde sempre, como pode e do jeito que consegue. 

minha mãe é parte responsável pelo meu caráter. minha personalidade conta para a consolidação do que me foi ensinado? com certeza. mas devo à dona maria, uma mulher preta e com muita história para contar, grande parte da pessoa incrível que sou. 

desde que entrei na psicanálise, a inconsequência se torna mais rara na minha vida. é um fenômeno que costuma acompanhar o autoconhecimento e autoanálise. longe de qualquer fonte de soberba, se conhecer é um caminho muito interessante. às vezes florido, às vezes árido. mas sempre interessante. 

em 2016 fui vítima de um abuso, essa é a primeira vez que conto isso publicamente. havia um ano em que eu havia assumido gostar de meninas e, na tentativa de estar com meninos, fui violada. passou. passei por muitas dores relacionadas ao romântico, principalmente por me entregar demais e não receber algo em troca. ou ainda, por tentar acertar e errar na mesma medida. a vida tem dessas. 

há três anos tenho me dedicado exclusivamente à redação e produção de conteúdo. finalmente entendi que é por meio das palavras que consigo me curar e alcançar pessoas que precisam de cura. ou que somente gostam de ler, rs. 

há um mês tenho vivido os dias mais áridos e tristes do último ano. aparentemente murphy se movimentou e botou pra quebrar. em uma semana eu chorei sem parar, fiquei mais de 24h sem comer e quis me matar. briguei com a pessoa que sou completamente apaixonada, chorei no meio de uma reunião de serviço e recebi a notícia de que meu gato está mais doente do que imaginávamos. daqui há algumas horas irei confirmar um diagnóstico de deficiência cognitiva e sei lá o que será me mim até 20h da noite. segundo minha melhor amiga, iremos descontar todas essas dores do treino de pernas.

mas ainda assim, serei eu mesma. 
com sorriso bobo e olhar fixo, medo de trovões e chuvas fortes, amante incondicional e amiga da verdade. serei eu, uma mulher incrível e única, dona das palavras inéditas mais estranhas da redondeza. serei eu e só apenas o que consigo ser, Bárbara. 

enquanto escrevia comia uma feijoada e ouvia "just the two of us". 

paz e bem.
até o próximo devaneio. 

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