(cansei)

Era um dia chuvoso e a moça já não era a mesma, esperou todas as estações passarem, alguns amores subtraírem e finalmente se deu conta de que havia cansado.

Aquela fortaleza que outrora era motivo de riso e referência, já não servia pra tanta coisa, tão pouco para sustentar seu próprio peso. Cansada de cansar-se, de amar demais, de amar de menos. Cansada de ser quem era e não ter compreensão. Cansou-se apenas de cansar-se.


A superficialidade, o egoísmo e as mentiras, de fato foram as coisas que mais cansaram a moça. Viu uma luta de anos ser travada em segundos e abandonada em milésimos. Acreditou em alguém que não era ela.

Uma vez ou outra o chão frio recebia suas lágrimas como brinde por sua frieza, ou apenas por estar ali, embaixo. Seu travesseiro coitado, talvez tenha mais sal que o mar, talvez seja mais denso que o esperado. Seu quarto, melhor e maior confidente de segredos não consegue passar nem ao menos um dia arrumado. Sua alma desaforada também calou-se, talvez cansou-se de ser, de ser alma.

Fadiga, medo e exaustão ou simplesmente um nível agudo de carência por carência, angústia por carência e demência de carência, o que agora não faz sentido algum, mas que de fato, sempre faz.

A moça finalmente ou diariamente se dá conta de que na caminhada é sempre ela, e sempre Ele. Talvez mais ninguém, as vezes alguém. Só as vezes.

Os dias se passam e a convicção é apenas uma, cansou-se de cansar-se. Cansou-se de ser quem não é, cansou-se de pouca coisa que é.

Afinal de contas, no fim da conta, ou no meio dela todos cansam, até o incansável um dia cansa de não cansar. Cansar é normal.

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