tire as sandálias, dance na chuva

há alguns bons dias não chovia.

já era tarde, já havia passado das 23h. sentia-me acalorada, fadigada, exausta.

olhava pela janela e sozinha imaginava, quando então viria a tão esperada chuva? quando o clima mudará e lá fora as flores sentirão o frescor do vento?

acostumada com dias frescos, aquele ano me surpreendeu.

extremamente quente, seco e com pouquíssimos ventos, aquele ano possivelmente tenha sido o ano com menos flores na minha varanda.

no ano anterior, apesar de não ter tido muito tempo para o jardim, e não ter cuidado tão bem das minhas plantas, olhava pela janela e elas ainda estavam lá.

diferente desse ano, onde via apenas grama e algumas flores, que resistentes, teimavam em não morrer ou murchar. 

não é normal que passem tantos dias sem chover.

a sequidão traz consigo um sentimento ruim. sinto-me completamente paralisada. sinto dores no corpo e principalmente no coração.

o que a aridez da vida tem a ver com as dores no coração? tudo.

o coração deveria receber o título de "o grande climatizador". mas confesso, o meu possivelmente estava com defeito. o normal seria que quando estivesse frio lá fora, ele fosse quente. e quando quente, ele me mantivesse fria e tranquila.

mas não era assim que as coisas estavam acontecendo.

vazando óleo, com as turbinas de ventilação emperradas. e eu, ah! eu estava morrendo de dor e calor.

mas então, lembrei-me de ler o manual de instruções. afinal, lá poderia conter algum contato da assistência técnica. mas não, para a minha surpresa havia um outro aviso: "em caso de danos ou mal funcionamento da máquina, espere um pouco, ela será automaticamente consertada. sugerimos que olhe pela janela, escolha novas coisas e permita que ela seja consertada."

dito e feito.

como um ciclo, o climatizador foi consertado. lá pelo dia 17 do último mês do ano. finalmente sentia o vento.

quando então, a dor da partida é transformada em sorriso e lembrança, você possivelmente estará pronto para a novidade. e se no horizonte já é possível ver uma nuvem, tire os calçados e saia para a rua. chegou a hora de dançar na chuva.