[re] monta

Enquanto caminhávamos pela Rua Quatro, naquela tarde chuvosa de 29 de Fevereiro de 1996, comecei a me sentir um tanto quanto estranha. Não sabia o que havia, então segurei firme em sua mão e prossegui. 

Um pouco mais à frente, fiquei ainda pior. Não saberia descrever o que de fato sentia, mas sentia, ardia, mexia e inquietava-se dentro de mim. Então, escuto um barulho como se algo houvesse caído no chão. Foi naquele dia, naquela rua. Havia perdido o primeiro pedaço de mim. 



Doeu, visceralmente doeu.
Começava a perder as partes que me compunham, enfraquecer minhas mãos nas suas e meus pensamentos. Também perdia um pouco da visão, e enxergava com dificuldade coisas distantes. 


Caminhamos mais, e um outro pouco.
Estávamos na Rua Dezessete, em uma manhã embaçada, neblinada, esbranquiçada. Era 32 de Outubro ou 1º de Novembro, não lembro. Estávamos lá. Dessa vez você caminhava atrás de mim, e eu à frente, uns três ou treze passos. Caí. 

DESMONTEI.
Quebrei-me, desmanchei-me, desfiz-me. 

BUUUUUUM!
Como um trovão, atravessando meu ser, minha alma, espírito transpassado, e pele fina, ouvi: REMONTA! 

Remonta tudo que há em ti, enxugue as lágrimas, refaça o percurso. 
Esqueça o passado assim como esqueci, multiplique sua vida, transpire, inspire, respire, levante. Segure em mim, repita seu nome, repita quem és. Remonta o Amor! 

Desamor não terá em ti casa, tão pouco passagem.
A vida foi feita para você, a alegria tem seu DNA, a tristeza moleca te encontrará em alguns dias, mas ainda assim, dispense em dias longos, não torne-se a casa dela.

Segura em mim, reveja o que não viu, sinta o que não sentiu, grita por dentro e por fora, remonte o amor. Estarei aqui, indo e vindo, descendo e subindo, acompanhando o que quer que seja. 

Estamos próximos à Rua Vinte e Cinco, são 29 de Março de 2016 ou 30 de Setembro de 2011, há sol, há luz, há você. Remonta o Amor! 



Liniker - "Remonta" 

Comentários

Postar um comentário

Postagens mais visitadas