Série sem Deprê, com Amor - Texto 01: emergir

em agosto de 2018, quando tive a penúltima grande crise, minha mãe disse uma frase que mudou minha perspectiva. Inclusive, trouxe novo significado aos pensamentos pré, durante e pós crise.

"(...) seja como uma ave fênix e renasça das cinzas... sinta-se agora no fundo do poço, mas emerja logo, não deixe lhe faltar o oxigênio...chega de vida ruim, busque a cura em você mesma"

- Dona Maria, minha mãe. 


a grande questão aqui é que quase ninguém se importa, profundamente, com a dor (seja sua ou alheia). vivemos em um mundo onde qualquer sentimento que se distancie da alegria, e qualquer comportamento que não se pareça eufórico e empoderado, é visto com olhos de julgamento. 

ser humano e sentir-se humano é algo quase absurdo. afinal, quem quer demostrar "fraqueza"?

passei da fase onde as crises eram ocasionadas ou potencializadas por coisas "ruins da vida". é ainda mais difícil resolver quando não se tem ideia do que ocasionou a dor. por qual motivo está doendo?

anulamos de forma tão feroz nossa humanidade, que nos esquecemos do essencial. perdemos uma parte simples e natural que é sentir

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terça-feira, 27 de novembro de 2018.

não acordei muito bem.

não posso negar que 2018 foi, sem sombra de dúvidas, um grande ano pra mim. muitas realizações, confesso. coisas que me surpreenderam, inclusive. mesmo ano que tive, de longe, as maiores e mais avassaladoras crises. - quis ressaltar as coisas boas para que você entenda que nem tudo será ruim e que não durará para sempre.

os sinais apareceram bem antes. no domingo que antecedeu o ápice da crise já me sentia vulnerável. sabia que algo estava por vir - mas não tinha a noção de como seria. nunca tenho. 

não consegui levantar da cama.
não era apenas a mente, mas o físico já padecia a essa altura do campeonato. sentia dores nos ossos, nos olhos, uma cólica sem fim. o intestino funcionava como ele bem queria. confusão mental e medo. - alerta!

levantei da cama.
tomei banho e achei que conseguiria sair de casa. não consegui - alguns problemas externos - BUM.
ela chegou! avassaladora. forte como uma tempestade de verão. arrancando as árvores e destelhando minha alma. a maior crise que tenho memória. choro abundante, confusão mental, morte. 

um grito de socorro.
em seguida, uma rede de apoio ao meu redor.
o choro durou pelo menos dois dias. era muito além do que eu conseguia contornar. o sentimento era que não tinha jeito - eu não irei melhorar, pensei. pronto socorro. remédio pra dor e pra ansiedade, terapia de emergência, psiquiatra. - equilibrou-se

a frase voltou ao meu ouvido.
e aqueceu meu coração ao ponto de queimar.
"sinta-se agora no fundo do poço, mas emerja logo, não deixe lhe faltar o oxigênio (...) busque a cura em você mesma" - a crise passou.

dei um novo sentido e entendi a cura de forma diferente.
entendi minha missão e sei que possivelmente tenha outra crise. a humanidade me permite sentir.
não há palavra de encorajamento para uma alma cansada, não há conexão com conseguir ou não ter as coisas. sentir está ligado, diretamente, com o movimento e efeito de EXISTIR

só sente quem existe. 
seja alegria ou tristeza. - não torne invisível quem sente, não invisibilize sua própria dor. ela importa. 

segunda-feira, 03 de dezembro de 2018.
retomo as atividades praticamente uma semana após o acontecido.
mais ou menos, confesso. a casa ainda está bagunçada. mas estou aqui, acreditando e resistindo. 
vai dar tudo certo nas nossas vidas. ser luz no breu da minha própria alma e paz no caos que assola a vida - emergir.


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