não há coroa

enquanto olhava para o lado de fora da janela e via a chuva cair em vários quintais, esquecia-me de que ainda não havia ajeitado meu jardim para ser regado. ele ainda estava em fase de preparo, precisando de adubo, substâncias que fortaleceriam o solo e que deixariam minhas flores ainda mais frondosas quando nascessem. 

foi olhando pela janela e vendo a chuva tão esperada, que regava almas e aqueciam corações, que eu lembrei que antes da chuva, eu deveria apreciar ao máximo o meu deserto, lembrando que sua sequidão me ensinava muito, inclusive, a maneira como deveria cuidar de um solo em momentos ruins e bons.

em alguns quintais a chuva era fina, quase uma garoa. em outros eram chuvas tortuosas, fortes e que normalmente estragavam seus telhados. foi vendo a diferença da chuva em todos os quintais, que decidi orar pela chuva que estava por vir em meu quintal.

foi quando comecei:

"Grande e Poderoso Senhor da chuva e dos quintais, lhe peço uma chuva na medida do meu quintal, uma chuva que regue minhas flores todos os dias, que umidifique meu solo em dias de extrema aridez. Lhe peço, ó Senhor das chuvas, que mande uma chuva que saiba o valor de uma nuvem, que entenda seu papel no jardim, e que saiba o quão valioso é Seu poder. ainda Lhe peço por uma chuva que aqueça meu espírito, cale minha alma e cuide do meu coração. Senhor das chuvas, lhe peço uma chuva sem coroa, porém, que tenha completa e total certeza, de que ser chuva em terreno árido, é reinar sobre um reino que foi feito pra ele. e por fim, Lhe peço que essa chuva seja a convicção de que minhas flores serão frondosas, minhas árvores darão fruto, que os pássaros terão aonde se refrescar, e que eu terei eternamente um lindo jardim. um jardim que terá antes de uma excelente chuva, um excelente Jardineiro, que outrora se faz de Senhor das chuvas."

E foi assim, olhando para o céu, observando a fábrica das mais valiosas chuvas, e olhando para todos os outros quintais, que entendi: não há coroa! as verdadeiras chuvas não precisam delas, a não ser, que seja uma chuva de conto de fadas, porém, a minha chuva é real.